sábado, 23 de janeiro de 2010

PARA PENSAR A PAZ...

O BALDE
Um velho camponês observava, descontente, um jovem que construía uma cabana perto do seu arrozal.
— Pergunto-me de onde veio — disse à mulher, nessa mesma noite. — Não é daqui da terra. A julgar pelas roupas, é originário das montanhas. Que vem fazer para aqui? Isto não me agrada nada. Isto não me agrada mesmo nada…
— Porque não vais cumprimentá-lo amanhã? — aconselhou-o a mulher. — Dá-lhe as boas vindas. De certeza que não conhece ninguém por estes lados.
— Nem penses nisso — ripostou o camponês. — Não sabes que os habitantes das montanhas são todos uns ladrões? Ignoremo-lo. Com sorte, talvez até se vá embora.
Todos os dias, o camponês trabalhava no arrozal. Com a água pela barriga das pernas, arrancava as ervas daninhas e punha-as num balde. Uma manhã, descobriu que o balde não estava no sítio do costume.
— Eu sabia — vociferava, enquanto levantava a cama e espreitava por detrás do armário. — Eu sabia. O homem roubou-me. Roubou o meu balde!
A mulher perguntou-lhe:
— Quem te roubou o balde?
— Ora quem! — sussurrou o homem — O montanhês!
— Ninguém te roubou nada — assegurou a mulher. — Sabes muito bem que passas a vida a perder tudo. Procura bem o balde e acabarás por o encontrar!
Mas o camponês não lhe deu ouvidos. Saiu de casa à socapa e foi espiar o vizinho. O jovem estrangeiro cuidava tranquilamente das suas tarefas, mas o camponês achou que ele tinha um ar suspeito.
— Não há dúvida — disse para consigo, semicerrando os olhos enquanto observava o montanhês. — Tem ar de ladrão de baldes, anda como um ladrão de baldes: é um ladrão de baldes!
— Bom-dia, vizinho — saudou-o o jovem, ao aperceber-se de que o camponês o espreitava por detrás de uma árvore.
O velho fugiu a correr. Quando chegou junto da mulher, disse-lhe, esbaforido:
— Estás a ver, até me cumprimenta para que não desconfie dele. É mesmo arrogante Desafia-me! Ri-se de mim!
O camponês barricou-se em casa com a mulher, as dez galinhas e os três porcos.
— Meu pobre amigo — disse-lhe a mulher, abrindo a porta — perdeste mesmo a cabeça!
— Mas — gemeu o camponês — agora que tem o meu balde, vai querer tudo o que eu tenho. E ainda não te disse tudo — acrescentou o homem, batendo os dentes. — Quando não são ladrões, os montanheses são malvados!
A mulher encolheu os ombros e foi dedicar-se às tarefas do dia.
Ao cair da tarde, o camponês saiu de casa para beber água do poço. E o que viu ele, pousado no parapeito do poço? O seu balde! Lembrava-se agora que tinha ido buscar água para dar de beber aos animais. Tinha-se esquecido completamente de pôr o balde no lugar.
— Mas — repetia para si mesmo, envergonhado — o montanhês tinha mesmo ar de ladrão…

Johanna Marin Coles e Lydia Marin Ross

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