Foram estes os poemas de João Pedro Mésseder escolhidos pelos piratas, que disseram no recital da Poesia:
MÃE - CHUVA
Mãe – chuva
Deixa-me sair
E a bola na rua jogar
E o vento na cara sentir.
E deixa, mãe – chuva, olhar
Tocar o tesouro do sol
No resto do girassol
Que vive naquele jardim.
As piratas Catarina R. e Filipa
VERDADE E MENTIRA
Baixa as velas
à mentira,
não a deixes
velejar.
À verdade
Dá-lhe o vento
p´ra que possa
navegar.
O pirata Luís
ESTA PALAVRA É ISTO
Esta palavra é uma nuvem,
Aquela palavra é uma pétala.
Esta palavra é um cântaro,
Aquela palavra é uma chama.
Esta palavra é um pássaro,
Aquela palavra é um peixe.
Esta palavra é um rosto,
Aquela palavra é uma pedra.
Esta palavra é um sino,
Aquela palavra é um gesto.
Esta palavra é um anjo ,
Aquela palavra é um segredo.
Esta palavra é isto ,
Aquela palavra é o que eu quero.
A pirata Beatriz
FORMAS
Tem a forma da redoma.
Chama-se segredo.
Tem a forma de uma nuvem.
Chama-se silêncio.
Tem a forma de uma pedra.
Chama-se sílaba.
Tem a forma de uma árvore.
Chama-se mãe.
Tem a forma de uma chave.
Chama-se pai.
Tem a forma de um pássaro.
Chama-se filho.
Tem a forma de liberdade.
Chama-se vento.
As piratas Anisia e Ana S.
«O g
O g é um gato enroscado
a dormir ao sol de Maio.»
A pirata Mariana
«O silêncio vive numa casa
onde a música
entra quase sem pedir licença.»
A pirata Leonor
MATERIAIS
Um coração
faz-se de amoras.
Uma mão
faz-se de galhos.
Uma flor
faz-se zumbindo.
Uma árvore
faz-se de ninhos.
Um cavalo
faz-se de vento.
Uma nuvem
faz-se de linho.
Um rio
faz-se de silêncio.
Uma casa
faz-se por dentro.
A pirata Inês
ORDENS
Acende a luz
Mári Cruz
Abre a porta
Zé da Horta
Limpa os pés
Barnabé
Traz a lenha
Zé da Penha
Acende o fogo
Zé Diogo
Fecha a janela
Marinela
Traz a água
Zé Mortágua
Come a sopa
Zé da Poupa
Vai à pia
Zé Maria
Lava o chão
Adrião
Apaga a luz
Mári Cruz
As piratas Ângela e Andreia
MAIS ORDENS
Acende a luz
Mári Cruz
Baixa a voz
Galaroz
Junta o feno
Zé Sereno
Faz o pino
Adelino
Vai girando
Zé Orlando
Dá-me o lenço
Zé Lourenço
Traz papel
Zé Miguel
Traz caneta
Zé Sineta
Escreve a tinta
Zé Jacinto
Abre o olho
Zé Piolho
Apaga a luz
Mári Cruz
Os piratas Ricardo e Diogo.
TABUADA DO DOIS
- Dois vezes um dois. Carrega-me com os bois.
- Dois vezes dois quatro. Engraxa-me os sapatos.
- Dois vezes três seis. Ganhas uns vinténs.
- Dois vezes quatro oito. Talvez sete ou oito.
- Dois vezes cinco dez. Escova os canapés.
- Dois vezes seis doze. Afinal dou-te onze.
- Dois vezes sete catorze. Nem onze nem doze.
- Dois vezes oito dezasseis. Só te dou é seis.
- Dois vezes nove dezoito. Faço-te num oito.
- Dois vezes dez vinte. Chega de preguiça.
Não sou tua criada. Só te dou de meu esta rima errada.
Os piratas Ana V., André, Tiago A. e Tiago R.
DE QUE COR?
- De que cor é a alegria?
- Azul como um céu de aguarela.
- De que cor é o desejo? -
Vermelho como um país recém-criado.
- De que cor é a saudade?
- Lilás como um piano vagaroso.
- De que cor é a rosa do tempo?
- Branca e negra, branca e negra.
Os piratas João e Duarte
CARACOL
Já se vê o arrebol,
sai de casa, caracol,
põe os corninhos ao sol.
Em volta do velho pardal
já vi outros, pequeninos,
a debicar no quintal.
Os meninos ainda dormem,
o gato ainda dormita
e o cão ressona ainda.
O jardineiro não veio
e o galo preso ao poleiro
só o ouvi uma vez.
Caracol, caracol,
O terreno ‘inda está livre,
Põe os corninhos ao sol.
O pirata Pedro
PAPAGAIO
Há palavras
feitas p’ra voar
num céu de Maio.
Leves palavras
ao colo do vento,
construídas
com o papel
colorido
dos teus sonhos.
Tomas uma
e soltas o fio
que a prende
à tua mão.
E a palavra
ganha asas,
eleva-se no ar
com o seu longo
ditongo
voador.
Até encontrar,
no mais alto
de ti mesmo,
um lugar
imenso
para morar.
O pirata António
VERÃO
No pomar, os frutos
amadurecem o sol.
PRIMAVERA
A romãzeira borda
o sorriso do sol
no lenço de namorados
UM SONHO DA TERRA
A paz é um sonho
vagaroso da terra:
é uma ave sulcando
um azul muito alto,
é um mar sossegado
e uma língua de espuma
lambendo o areal.
A paz é um sonho
vagaroso da terra:
igual é o diferente
e diferente o igual.
A paz é a água,
o vinho e o pão,
o rio e a árvore,
o campo e a cidade,
a escola, o hospital,
o tractor, a oficina,
o avião e o navio...
A paz não é a morte
nem febre do ouro,
a paz é um sonho
vagaroso da terra.
A paz é uma pátria
- adivinho-lhe a cor –
um país a erigir
(uma pedra outra pedra)
os seus dias por vir.
A pirata Catarina P.
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