domingo, 25 de abril de 2010

A REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL

Dia da Liberdade
Não havia escola. A Sofia levantou-se mais tarde e estava, ainda de pijama, a ver desenhos animados no sofá.
- Ainda bem que inventaram este feriado – disse. – Hoje é o dia da preguiça.
- Não – respondeu a mãe. – Hoje é o dia 25 de Abril. Sabes o que aconteceu neste dia em 1974?
Mas ela não sabia. Então a mãe sentou-se ao seu lado no sofá e contou:
- No dia 25 de Abril de 1974, eu tinha a tua idade. Levantei-me cedo para ir para a escola mas a rádio avisou que havia uma Revolução. Pensei logo que iam estourar tiros e bombas. Podíamos até morrer! Fiquei cheia de medo. Deixámo-nos estar todos em casa a ouvir as notícias e as canções que transmitiam. A certa altura o teu avô José exclamou:
- Não fico nem mais um minuto aqui dentro. Vou juntar-me a eles!
E saiu, acompanhado do teu tio Manel, que tinha mais cinco anos que eu.
Então espreitei à janela e vi tanques de guerra que se aproximavam, soldados com capacetes, armados.
De toda a parte surgia gente nova, velha, todos falavam, muitos abraçavam-se. Os rapazes trepavam às árvores do Largo do Carmo, onde vivíamos, e davam vivas à Revolução. Parecia uma festa.
Então pedi à minha mãe que nos juntássemos àquela multidão.
De repente, apareceu uma rapariga com um cesto de cravos vermelhos. Também ela sorria, feliz. Pegou numa flor e, num gesto lindo, meteu-a no cano de uma espingarda. Depois olhou para mim e disse:
- Queres ajudar-me?
Fiquei radiante por estar a pôr cravos nas espingardas.
Havia pessoas a rir. Um homem de cabelos brancos chorava de emoção.
- Esperei mais de quarenta anos por isto... Estive preso e fui torturado por dizer o que pensava.
O meu pai pôs-me às cavalitas para ver o capitão que falava num altifalante, pedindo aos governantes que se rendessem. Era muito jovem e chamava-se Salgueiro Maia. Foi ele o grande herói daquele dia. Escusado será dizer-te que a Revolução venceu. Sem lutas. Sem verter uma gota de sangue. À noite, antes de me deitar, o meu pai abraçou-me e disse-me:
- Nunca te esqueças deste dia. Recorda-o mais tarde aos teus filhos. Hoje é o Dia da Liberdade!
A Sofia ficou séria. Depois levantou-se para regar o craveiro que floria na varanda.

Luísa Ducla Soares

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