sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A ZEBRA INSATISFEITA



Num país de África, num vale muito bonito onde corria um riacho, havia uma grande família de ze­bras. Havia também elefantes, girafas, antílopes e até leões.
Mas no meio desses animais todos vivia uma zebra muito especial: era uma zebra destemida, mas sempre insatisfeita. Ape­sar de ser amada por todas as zebras da sua manada, nunca estava feliz com o que tinha: ora porque a erva não era sufi­cientemente tenra, ora porque não era tão alta ou tão verde como ela desejava, ora porque a água podia ser mais cristalina e saborosa...
Aquela zebra era mesmo resmungona! Insatisfeita com a sua sorte, embora que­rida por todos, menos pelos leões, claro - que também têm de comer para sobre­viver -, a nossa zebra passava o dia a olhar para além das longínquas montanhas.
E fartava-se de dizer:
- Um dia partirei para além das montanhas. Estou certa de que lá, pelo que já ouvi o velho elefante dizer, há ter­ras mais bonitas e mais ricas do que esta. Há terras onde existem animais mais maravilhosos do que estes, e eu vou de cer­teza dar-me bem por lá.
Assim, chegou o dia em que, enchendo­-se de coragem, se despediu dos seus amigos e amigas e disse:
- É hoje que eu vou descobrir o que há para além das montanhas!
Os amigos suplicaram-lhe:
- Não faças isso! Tu és maluca! Olha que há muitos desafios, há muitos perigos e, quem sabe, tu chegas lá e não te vais sentir feliz. Nós aqui amamos-te! Porque vais emigrar?
Mas a zebra estava decidida. Não havia nada a fazer! Ninguém a faria mudar de ideias.
E assim foi: pegou na sua mochilinha e pôs-se a caminho, sem olhar para trás, sem um aperto no coração. Ela sabia que para lá daquelas montanhas iria encon­trar a felicidade.
Andou, andou durante vários dias. Não foi fácil. Subiu a monta­nha, que era muito maior e com muito mais perigos do que imaginava. Era pre­ciso ter cuidado com as rochas, com o ca­lor, com os animais selvagens que por lá andavam, com as falésias, para não escorregar... Mas estava decidida!
Por fim, depois de uma longa caminhada, chegou ao outro lado da montanha.
O que viu, primeiro, pareceu-lhe ser en­cantador: de facto, havia uma erva muito verde, farta, abundante e os rios tinham muita água transparente. Só que a jovem zebra não se apercebeu logo de que ali era um território com muitos, muitos leões particularmente ferozes. E assim que desceu da montanha, os outros ani­mais avisaram-na:
- Tem cuidado! Olha que era melhor te­res ficado onde estavas, porque aqui es­tamos sempre em risco. Este sítio, visto de longe, é muito bonito… Mas quando chegamos cá apercebemo-nos de que as coisas são diferentes. O1ha que há muitos animais, antílopes, girafas, que fizeram como tu, e muitos já foram comidos e muitos outros estão a pensar voltar para trás..
- Não! - disse a zebra. - Eu sou corajosa! Nada me fará desviar da minha decisão !
E, valentemente, juntou-se aos outros animais. Só que depressa compreendeu que não era bem como imaginara. Todos os dias percebia que os animais estavam nervosos, inquietos, atentos, porque os leões e as leoas, insaciáveis, andavam sempre à caça. Eram tantos e tão ferozes que a zebra começou a ter medo: não po­dia dar-se ao luxo de um momento de dis­tracção! Já não dormia sossegada; se ia ao riacho beber água, estava sempre a olhar para trás, não fosse ser surpreendi­da por alguma leoa; sempre que estava a pastar, permanecia com os seus sentidos em alerta. E todos os dias via amigos se­rem comidos pelos leões, que eram mes­mo muito ferozes. Disse então para consi­go: «E eu que pensava que vinha para um paraíso melhor do que aquele que tinha! ... Lá onde eu vivia havia leões, mas eram poucochinhos e deixavam-nos sos­segados, às vezes semanas inteiras! Mas aqui não há um dia de descanso! Temos de estar sempre atentos, se não somos atacados e comidos.
A nossa zebra tão valente começou a fi­car desmoralizada e a pensar que tinha sido imprudente, precipitada e que talvez valesse a pena reconsiderar o que fizera. Assim, um dia, resolveu ir falar com o velho cágado:
- Senhor cágado, o que acha? Devo ficar aqui ou devo voltar para o meu vale?
E o cágado, que era muito sábio, disse:
- Tu é que sabes. A decisão só pode ser tomada por ti. Mas também te digo: a minha sorte é os leões não gostarem da minha carapaça. E, além disso, trabalho sobretudo de noite, e de noite os leões estão a dormir, não tenho muitos problemas. Mas já vi morrerem muitas zebras aqui. Tu tinhas amigos onde vivias?
- Sim, tinha muitos, mas não lhes ligava lá muito. Estava sempre a sonhar e só me queria ir embora. Eles até devem estar zangados comigo.
Então, o velho cágado disse:
- Pensa bem. É melhor tomares uma de­cisão, porque, se ficas muito tempo por cá, já não voltarás: ou porque serás comida ou porque terás filhos e eles talvez já não queiram saber do teu lindo vale para nada! Vão habituar-se a isto! Por outro lado, os teus amigos vão criar a sua própria família e fazer outros conhecimentos, e, quem sabe, se demo­rares muito tempo, quando voltares, eles já nem te reconhecem!
- Pois é - concordou a zebra, pensativa. Nessa noite, não dormiu. Não só por es­tar inquieta, mas porque se pôs a olhar para as estrelas e a meditar: «Tenho de pensar muito bem e amanhã sem falta vou tomar uma decisão.»
...
QUAL TERÁ SIDO A DECISÃO DA ZEBRA? É SÓ CONTINUAR A LER A HISTÓRIA EM:

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